quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

QUARESMA


Falar de Umbanda e quaresma é um tema instigante e polêmico na medida em que Quaresma, em si, não é um ritual que faça parte da Umbanda. No entanto, em virtude do sincretismo religioso, muitas casas umbandistas adotam este período como época de fechar a casa e suspender o atendimento de consulentes e de prática da caridade.

Este fator histórico teve origem durante o Brasil colonial, quando os senhores de engenho e de escravos tendo como base suas crenças na igreja Apostólica Romana, durante a quaresma adotavam a prática de cobrir suas imagens e fechar suas igrejas, entrando em introspecção pelo período representativo da caminhada de Jesus pelo deserto.

Pelo fato dos escravos serem obrigados a esconder seu culto aos Orixás através do sincretismo, convencionou-se que durante a quaresma como não havia culto aos santos católicos, também não havia culto aos Orixás, passando com o tempo a Umbanda a incorporar esta tradição, baseando algumas casas a explicação no fato de que durante a quaresma os espíritos de luz e entidades de Umbanda afastam-se do plano da terra, razão pela qual as casas Umbandistas ficariam impossibilitadas de praticarem a caridade.

Eram assim que os Terreiros fechavam na gira que precede o Carnaval, cruzando seus filhos com pemba e com cinza, a fim de proteger a todos dos fluídos negativos e espíritos inferiores que circulavam pelo ambiente astral do planeta, só reabrindo na sexta-feira santa com a cerimônia de amaci e batismo. Fechava-se o Congá com cortinas, e cobriam-se as imagens com panos brancos ou roxos,conforme a tradição católica.

A palavra quaresma vem do latim quadragésima e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecede a festa ápice do cristianismo: a ressureição de Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa.  Esta prática data desde o século IV.  Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d.C., a igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a quaresma.

Na Bíblia, o número simboliza o universo material.  Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio , dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos Judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.

As celebrações da quaresma tem início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal de Jesus, o começo da Semana Santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou seja, Domingo de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento. Depois, celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira santa, conhecida também como lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de Jesus e, portanto, o resgate dos pecadores.  Depois vem a celebração da sexta-feira da Paixão,também conhecida como  sexta-feira santa, que celebra a morte do Senhor, às 15:00 horas. Na sexta à noite geralmente é feita uma procissão ou ainda a via Sacra, que seria a repetição das 14 passagens da vida de Jesus. No sábado à noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a vigília Pascal, também conhecida como a Missa do Fogo. Nela Círio Pascoal é acesso, resultando as cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e do pó voltaremos, sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo. Os rituais se encerram no domingo, data da ressureição de Cristo, com a Missa da Páscoa, que celebra o Cristo vivo.

Esta é a sequência dos atos perpetrados pela Religião Católica nos rituais que envolvem a quaresma e a Páscoa. Dessa forma, por mais que estes hábitos estejam arraigados na nossa cultura, devemos ter em mente que essas práticas são católicas, não pertencendo a Umbanda.

Para nós Umbandistas o que importa é que nossa casa deve estar aberta para atendimento aqueles que necessitam de socorro espiritual de nossos guias e entidades. Pelo fato de ter se convencionado que a quaresma é um período onde as entidades superiores não trabalham, acaba sendo criado um ambiente propício à instalação de energias deletérias e nocivas, próprias de espíritos atrasados espiritualmente. É por força, portanto desta mentalização e crendice popular que necessitamos da proteção, amparo e esclarecimento das entidades que nos guardam e às nossas casas umbandistas. Não pode haver pausa no socorro espiritual, uma vez que aqueles que praticam o uso de energias não tiram férias.

Temos que compreender, aprender e praticar melhor nossa religiosidade, sem nos deixarmos influenciar pela religiosidade e costumes religiosos e de outras religiões.


       " A tradição de fechar os templos de Umbanda quando não havia liberdade de crença, não tem razão de ser no mundo atual. Ao contrário, é nessa época que NÃO DEVEMOS PARAR, é nessa época em que espíritos não evoluídos trabalham a vontade, que o Templo deve estar preparado para, com o auxílio das Entidades de Luz, denunciar qualquer trabalho negativo que tenha sido feito para atrapalhar seus Filhos de Fé ou frequentadores. Atualmente, interromper os trabalhos no período da quaresma é descabido, é ingenuidade, é desconhecer que as energias de baixa vibração iram trabalhar, e que se não temos Pretos Velhos, Caboclos ou qualquer entidade que possam nos auxiliar a combater o mau feito, estaremos desprotegidos. Precisamos esclarecer que a Quaresma não é Afro, é Hebraíco-européia, e já não é preciso se esconder de ninguém, pois nossa constituição nos assegura o direito de liberdade de crença. Por isso vamos abrir no período da quaresma e cuidar dos nossos irmãos de fé." (baseado em Ronaldo Antônio Linares - Federação Umbandista do Grande ABC).

Texto: Lara Lannes - Genuína Umbanda

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