segunda-feira, 2 de abril de 2012

Diferença entre o Céu e o Inferno


Conta-se que um poeta estava um dia passeando ao crepúsculo em uma floresta, quando de repente surgiu diante dele um dos maiores poetas de todos os tempos - Vírgilio.
O homem tomou o maior susto de sua vida e começou a tremer sem parar. Vírgilio disse ao apavorado colega: 
- Tua alma está tomada pela covardia, que tantas vezes pesa sobre os homens os afastando de nobres empreendimentos como uma besta assustada pela própria sombra. Mas o destino lhe sorri, pois você foi escolhido para conhecer os segredos do Paraíso e do Inferno.


Utilizando seus poderes místicos, Vírgilio transportou o poeta (ainda apavorado com tão insólita experiência) ao velho e místico rio de águas pantanosas e cinzentas que circundava o submundo - o Rio Aqueronte.
Entraram em uma canoa e Vírgilio instruiu o poeta para remar até o inferno, já que "Caronte" não se encontrava por ali. Quando chegaram, o poeta estava algo surpreso por encontrar um lugar semelhante à floresta onde estavam, e não feito de fogo e de enxofre e nem infestado de demônios alados e criaturas nojentas exalando enxofre, como ele esperava.

Vírgilio pegou o poeta pela mão e levou-o para uma trilha. Logo o poeta sentiu, à medida em que se aproximava de uma barreira de rochas e arbustos, o cheiro de um delicioso ensopado. Junto com o cheiro, entretanto, vinham misteriosos sons de lamentações  e de ranger de dentes. Gritos de mágoas, brigas, queixas iradas em diversas línguas formavam um tumulto que tinha o som de uma ventania. Ao contornarem as rochas depararam-se com uma cena incomum.

Havia uma grande clareira com muitas mesas grandes e redondas, no meio de cada mesa havia uma enorme panela contendo o ensopado, cujo cheiro o poeta havia sentido,  cada mesa estava cercada de pessoas definhadas e obviamente famintas. Cada uma segurava uma colher com a qual tentava comer o ensopado. Entretanto, devido ao tamanho da mesa e por serem colheres muito grandes e com cabo três vezes mais compridos do que os braços das pessoas que as usavam,  ficavam impedidas de alcançar a panela no centro da mesa. Isto tornava impossível para qualquer uma daquelas pessoas famintas de levar a comida a boca. Havia muita luta e imprecações, enquanto cada pessoa tentava desesperadamente pegar pelo menos uma gota do ensopado.


O poeta ficou muito abalado com a terrível cena e fechando os olhos suplicou para que Vírgilio o tirasse dali. Em um momento eles estavam de volta a canoa e Vírgilio orientou o poeta como chegar ao paraíso.

Quando chegaram, o poeta surpreendeu-se novamente ao ver uma cena que não correspondia às suas expectativas. Aquele lugar era quase exatamente igual ao que eles haviam acabado de visitar. Não havia grandes portões de pérolas, nem bandos de anjos a cantar.
Novamente Vírgilio o conduziu por uma trilha onde um cheiro de comida vinha de trás de uma barreira de rochas e arbustos. Desta vez, entretanto, eles ouviram cantos e risadas quando se aproximaram. Ao contornarem a barreira, o poeta ficou muito surpreso de encontrar um quadro idêntico ao que eles tinham acabado de deixar: grandes mesas cercadas por pessoas com colheres de cabos desproporcionais e uma grande panela de ensopado no centro de cada mesa.

A única e essencial diferença entre aquele grupo de pessoas e o que eles tinham acabado deixar é que as pessoas deste segundo grupo estavam usando suas colheres para alimentar umas às outras.

Fonte das Fotos: Google

Nenhum comentário: