terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pomba-Gira na Umbanda



Na Umbanda, a entidade espiritual que conhecemos como Pomba-gira está fundamentada num arquétipo desenvolvido à partir da entidade Bombogira, originária do culto Angola.

Quando da vinda dos nigerianos para o Brasil (isto por volta de 1800), ao encontrar-se com outros povos e culturas religiosas se assimila a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás.

Com o passar do tempo a formosa e provocativa Bombogira conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino ou de mulher dele e a palavra Bombogira se transforma por adaptação da língua, em Pomba-gira.

Mas ela, marota e astuta como só, foi logo dizendo que era mulher de sete Exús, uma para cada dia da semana, e, com isso, garantiu sua condição de superioridade e de independência.

Na verdade, num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram vítimas de maus tratos por parte dos seus companheiros, que só as queriam para lavar, passar, cozinhar e cuidar dos filhos, eis que uma entidade feminina surge e extravasava o ‘eu interior’ feminino reprimido à força e dando  vazão à sensualidade e à feminilidade subjugadoras do machismo, até dos mais inveterados machistas.

Pomba-gira construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da feminilidade.

Ela foi logo se apresentando como a “moça” da rua, apreciadora de um bom champagne e de uma saborosa cigarrilha, de batom e de lenços vermelhos provocantes.

Escrachada e provocativa, ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua, à rameira oferecida , e ela não só não foi contra essa associação como até confirmou: “É isso mesmo”!

E todos se quedaram diante dela, de sua beleza, feminilidade e liberalidade, e como que encantados por sua força e coragem.

É comum as pessoas confundirem o trabalho de Exú e Pombas-gira na Umbanda, pois estas entidades são, não raramente, confundidas com espíritos de  vibração inferior. Ao ver uma gira, muitos que ainda não conhecem o verdadeiro poder dessas entidades se assustam com as feições, risadas e maneira de falar destes fortes guias.

Exú e Pomba-gira são espíritos em busca de evolução, compromissados com a espiritualidade superior. Os médiuns bem preparados são um ótimo caminho para que estas entidades trabalhem, aprendam e pratiquem a caridade de forma correta, alinhada, com a única vontade de fazer o bem ao próximo.

São entidades de muita força, geralmente ligadas às forças básicas. Quem já passou por uma gira de Exú e Pomba - gira sabe que um descarrego  feito por um eles é como "tirar com as mãos" aquela sensação pesada das nossas costas.

Encarregados de transportar as forças, essas entidades são simples no falar e no agir. Muitas vezes são tão diretas que nos assustam. Algumas vezes, ouvimos coisas que não queremos ouvir, mas suas mensagens são apropriadas para o momento e devemos refletir sobre o que nos disseram.

A imagem associada às entidades que fumam e bebem, dançam e giram e por vezes soltam suas risadas não significa que são zombeteiras e que procuram fazer o mal. A bebida e o fumo são catalisadores da energia espiritual dessas entidades em nosso mundo, fazendo o seu trabalho através de coisas materiais, assim como qualquer entidade usa o corpo do seu médium para trabalhar. Vale lembrar que isto não é uma regra: Nem toda Exú ou Pomba-gira fuma ou bebe. Isso não os faz menos poderosos. Cada entidade tem sua forma de trabalhar, que deve ser respeitada.

Muitos confundem Exú e Pombas-gira com obsessores. Estes espíritos obsessores não podem e não devem ser classificados como exú. Geralmente, a própria pessoa que está com este tipo de perturbação é que dá vazão para a aproximação de espíritos inferiores, que drenam sua energia com base nas suas tristezas, vícios, raiva, ódio, sentimentos inferiores. Antes de colocar a culpa das perturbações em um espírito, as pessoas devem avaliar-se  primeiro, suas condutas, seus pensamentos, seus desejos.

No veio dos pensamentos de cada um tem pensamentos bons e pensamentos ruins. É natural do nosso livre arbítrio. Cabe a nós, a cada dia, a cada momento, decidir o que queremos ser, o que queremos seguir. Dar vazão aos pensamentos bons nos faz agir de forma boa, positiva. Com isso, atraímos forças boas que a cada dia vão nos abençoar e nos iluminar, gerando um ciclo de aproximação de bons espíritos, mostrando um caminho de luz e paz.

Se nos voltarmos ao nosso lado escuro, os pensamentos ruins, o ódio, raiva, ciúmes, rancor, estamos atraindo energias similares. Estas vão criar uma aura ao nosso redor com as energias similares à que estamos vibrando. Cabe a cada indivíduo escolher o caminho que deseja seguir.

Ao procurar um descarrego, a pessoa deve ter em mente que o trabalho não começa e nem termina ali. O Exú ou Pomba-gira fará a limpeza, levará o que puder levar e com certeza a pessoa sentirá uma melhora imediata. Mas isso não significa que está tudo bem e que podemos voltar a nossa vida de pensamentos ruins.

Se não pensarmos positivamente e atrair energias boas, não levará muito tempo para que as sensações de perturbação voltem, e muitos vão pensar que o descarrego "não deu certo". Certamente, a entidade fez a parte dela. Falta fazermos a nossa.

Nem Exú nem a Pomba-Gira fazem amarrações para o amor. Não prometem que vão trazer a pessoa amada em determinado número de dias. O respeito ao livre arbítrio é uma condição celestial e nenhuma entidade da Umbanda está autorizada a interferir nas escolhas de outrem para o benefício de um.

Claro, se você tem problemas sentimentais, dificuldade para encontrar um relacionamento ou estabelecer relações, você pode pedir ajuda! Uma Pomba-Gira certamente ficará honrada em trazer sua luz, energizando e abrindo caminho para que você encontre o seu caminho, na forma de seu merecimento.

Não tenha vergonha de pedir ajuda. O primeiro  passo para conseguir o que você precisa é reconhecer que precisa disso, e que ajuda é bem-vinda. Procure seu centro de confiança, avalie, pergunte, e converse com os guias que você gosta. Eles poderão te orientar e iluminar para que seus anseios sejam resolvidos.

Lembre-se que nem tudo que desejamos podemos  ter. Na Umbanda (e não só nela), vale a lei do merecimento. Alguns desejos estão além do que podemos ter no momento, e é sábio aquele que reconhece que alguns fardos são para nosso próprio aprendizado. Quanto mais rápido aprendermos, mais rápido passamos para o próximo passo.


Com isso, saudamos os Exús e as Pombas-Giras na sua formosura, simplicidade e dedicação para ajudar nós, os seres humanos, a alcançar mais um nível na compreensão universal e seguirmos em paz pelo nosso caminho.


Texto montado a partir das seguintes fontes:
http://www.colegiodeumbanda.com.br - Texto de Rubens Saraceni "Pombagira de Umbanda"
http://pontosdeumbanda.blogspot.com.br - Texto "Exú e Pomba-Gira na Umbanda"

Fonte das Imagens: Google

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