quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Preto Velho



Com certeza a mais carismática entidade que povoa os terreiros de Umbanda.

A mística do Preto Velho é fruto de condições e circunstâncias únicas em terras brasileiras, a sofrida vida dos escravos, trazidos da África, já bastante documentada e comentada, fazia com que os indivíduos, em função do penoso e extenuante trabalho a que eram submetidos, somado aos maus tratos, vivessem, em média, somente sete anos após sua chegada ao Brasil. As mudanças no panorama econômico brasileiro, como a decadência do ciclo da cana-de-açúcar e a redução da atividade mineradora, fizeram com que uma grande leva de escravos migrados, para os centros urbanos, pudesse levar uma vida mais amena e conseguisse ter uma expectativa de vida mais longa. Mesmo assim as condições de salubridade, nesta época, não favoreciam a longevidade.

Então surge a figura daquele escravo que, apesar das suas condições de vida, alcança idade avançada, personificando o patriarca da raça, cuja sapiência parece lhe ser conferida pelos cabelos brancos. Nas sociedades tradicionais, a figura do idoso é um símbolo da experiência de vida e um pilar da cultura do grupo a que pertence; aquele que deve ser ouvido e cujos conselhos devem ser seguidos. Vemos, portanto, o aparecimento de uma entidade cuja linha de trabalho é marcada pela tolerância, rústica simplicidade e um profundo sentimento de caridade. Só quem sofreu na carne as desventuras da vida, pode entender ou se aproximar da compreensão do sofrimento alheio, porque é possível responder a toda violência sofrida, com amor, sem nenhum sentimento revanchista ou de vingança.

A forma como se apresentam nos terreiros de Umbanda, através dos médiuns, é como uma pessoa muito idosa, curvada pelos anos. Às vezes apoiado em uma bengala, com uma voz meiga, algo paternal que atrai a confiança e simpatia de quem ouve. Com movimentos lentos, típicos de um ancião, geralmente sentam-se em um pequeno banquinho ou num pedaço de tronco, fumando seu cachimbo de barro ou um cigarro de palha, queimando seu fumo de rolo.

A linha dos Pretos Velhos está dentro da “falange das almas”. Seres desencarnados que alcançaram uma luz espiritual e retornam, através dos médiuns, ao plano terreno, numa missão de caridade, como que resgatando uma dívida espiritual, ajudando os necessitados, tanto na parte física, com passes magnéticos, defumações e indicando ervas curativas, como na psicológica, com conselhos e amparo afetivo, praticando a bondade incondicional que lhes é inerente.

Devido ao seu modo peculiar de falar, com erros de gramática e concordância e com expressões roceiras, que demonstra a falta de instrução formal, os Pretos Velhos são menosprezados por alguns, como espíritos atrasados e de pouca luz. Porém  a exatidão do português e o lirismo das palavras não indicam a elevação espiritual de ninguém, os grandes vultos da história da humanidade, que possuíam uma retórica exemplar e uma personalidade magnética, foram grandes genocidas, como Hitler e tantos outros e que, se pudessem dirigir alguma mensagem mediúnica poderiam parecer espíritos bastante iluminados. A qualidade da mensagem espiritual está no conteúdo, na compaixão que transparece nos atos e não na forma mecânica de sua construção.

Estas entidades, verdadeiros psicólogos, que falam a língua dos pobres e lhes tocam o coração, são grandes curadores no plano físico e espiritual, usando seu conhecimento fitoterápico com defumações e banhos de limpeza astral, são mais eficientes em sua caridade do que os discursos filosóficos de uma intelectualidade distante da realidade. Quando falamos dessa grande falange, referimo-nos também às entidades do gênero feminino, que povoam os terreiros com sua graça e candura, as Preta Velha.


Os olhos vêem um velhinho(a) negro(a) alquebrado(a) pela idade e pela vida, usando às vezes um chapéu de palha, outras um pano enrolado na cabeça, sentados num banquinho fumando seu cachimbo, rindo e bebendo suas bebidas preferidas. Se tornam quase um membro da família, aquele vovô ou vovó sábio(a) e bondoso(a) que todos gostariam de ter. É quando todas as barreiras caem e as pessoas entregam, aos seus ouvidos pacientes, suas histórias e mazelas, sem nenhum pudor de confessar fracassos ou desilusões. Por que não se sentem falando a um estranho, mas a alguém que parece conhecê-los desde o início de suas vidas.

Carinhosamente, também chamados de pai preto ou mãe preta, estes guias ensinam uma importante lição de humildade e resignação diante das adversidades da vida, sem perder a alegria e o bom humor. É comum ouvir, dos mesmos, observações jocosas a respeito dos problemas simplificando o que parecia complicado, dando esperanças para fortalecer psicologicamente seu consulente, porque sabe que se fraquejarmos na lida da vida, os problemas se tornam maiores e não suportamos o fardo.

A grande lição que ensinam estas entidades é que colhemos o que plantamos, e esta é uma grande oportunidade para rever os erros cometidos e tomar consciência da nossa responsabilidade por nós mesmos na busca da felicidade.

Compilado do texto de:  Antônio Basílio Filho

Fonte: Blog Povo de Aruanda
Fonte da Imagem: Google

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Valéria

A maior verdade. Colhemos o que plantamos.

Mas, tem gente que planta abóbora e reclama por não colher melancia.

Não entendem nada da dinâmica da vida.

Beijos

Centro Pai Jacó de Angola disse...

Olá Van querida.... nossa que bom vê-la por aqui!
Como conseguiu descobrir este blog?????
Eu não o divulgo na net?
Nossa maior verdade amiga é que somos responsáveis pelas nossas ações. Colhemos o que plantamos!
Beijo enorme em seu coração